terça-feira, 31 de maio de 2011

Violência no Campo ate quando ?

Em cinco dias, quatro militantes são assassinados na região da floresta Amazônica

Além das mortes, foi registrada uma tentativa de assassinato contra um líder quilombola no Maranhão
30/05/2011

Da redação

O trabalhador rural Herenilton Pereira foi encontrado morto no sábado (28) no município de Nova Ipixuna. Ele estava desaparecido desde quinta-feira (26) e vivia no mesmo assentamento do casal de líderes extrativistas assassinados na terça-feira (24).
No dia do assassinato do casal, Herenilton e seu cunhado trabalhavam às margens de uma estrada a cerca de cinco quilômetros do local onde ocorreu o crime. Momentos depois, ambos presenciaram a passagem, a poucos metros deles, de dois homens em uma moto, vestidos de jaqueta e portando capacetes. Um deles carregava uma bolsa comprida no colo. As descrições coincidem com informações prestadas à polícia por testemunhas que presenciaram a entrada, no assentamento, de dois pistoleiros horas antes do crime naquela manhã.
Ainda segundo o relato do trabalhador que estava ao lado de Herenilton, uns 100 metros à frente, os supostos pistoleiros pararam a moto e um deles abordou um trabalhador e pediu informações de como chegar ao porto do Barroso, uma das saídas do assentamento em direção ao município de Itupiranga.
Na quinta feira, Herenilton saiu de casa para ir ao mesmo porto comprar peixe e não retornou. O corpo dele foi encontrado dentro do mato, antes de chegar ao porto. O agricultor tinha 25 anos, era pai de 4 filhos e vivia no assentamento desde criança.

Violência rural
Herenilton foi o quarto trabalhador rural assinassinado só nesta semana. Na terça-feira (24), os líderes extrativistas José Cláudio Ribeiro da Silva, conhecido como Zé Castanha, e sua esposa Maria do Espírito Santo da Silva foram emboscados por pistoleiros em uma estrada em Nova Ipixuna, no Pará. O casal era líder dos assentados do Projeto Agroextrativista Praia Alta da Piranheira e vinham sendo ameaçados de morte por madeireiros e carvoeiros há anos.
Na sexta-feira (27), Adelino Ramos, conhecido como Dinho, sobrevivente do Massacre de Corumbiara, ocorrido em agosto de 1995, foi assassinado no município de Porto Velho (RO), enquanto vendia verduras no acampamento onde vivia. Ele foi morto por um motoqueiro, próximo ao carro da família onde estavam sua esposa e duas filhas. Dinho denunciava a ação de madeireiros na região da fronteira entre os estados de Acre, Amazônia e Rondônia e já alertava para ameaças contra sua vida.
Em nota, a CPT critica as investigações feitas até o momento. "Até o momento não podemos afirmar que o caso tenha relação com a morte de José Cláudio e Maria, mas também não podemos descartar essa hipótese. A polícia precisa esclarecer as causas do crime. O assassinato é prova de que a polícia, depois de 5 dias das mortes dos extrativistas, sequer tinha investigado as principais rotas de fugas do assentamento que os pistoleiros possam ter usado para fugirem após cometerem os crimes. Como explicar que um assassinato, com características de pistolagem, ocorra dois dias depois e nas proximidades do local onde os extrativistas foram mortos com todo o aparato das polícias civil e federal, 'vasculhando a região' conforme anunciam?".

Tentativa de assassinato
Além das mortes, foi registrada na sexta-feira (27), uma tentativa de assassinato contra o sindicalista Almirandi Pereira, de 41 anos, vice-presidente da Associação Quilombola do Charco, de São Vicente Ferrer, no Maranhão.
Almirandi luta pela titulação do território quilombola do Charco em conflito com o empresário Gentil Gomes, pai de Manoel de Jesus Martins Gomes e Antônio Martins Gomes, recentemente beneficiados por um salvo-conduto concedido pelo TJ-MA. Os dois estão denunciados pelo Ministério Público Estadual sob a acusação de serem os mandantes do assassinato de Flaviano Pinto Neto, líder do mesmo quilombo, no dia 30 de outubro de 2010.
A tentativa ocorreu por volta das 21h30min, depois de Almirandi ter voltado de uma reunião no quilombo Charco. De acordo com seu relato, ele estava na sala de sua casa com as portas fechadas quando ouviu parar em frente um carro modelo celta, de cor preta, de onde foram feitos três disparos. Segundo a polícia civil de São Vicente Ferrer, trata-se de uma pistola calibre 380 – igual à arma utilizada para matar Flaviano. Os projéteis atingiram paredes e telhado da casa. (Com informações da CPT)

segunda-feira, 30 de maio de 2011

TÔ FAZENDO A MINHA PARTE


Gilson Bernini / Flavinho Silva




Tô saindo pra batalha,
Pelo pão de cada dia
A fé que trago no peito
É a minha garantia
Deus me livre das maldades,
Me guarde onde quer que eu vá
Tô fazendo a minha parte,
Um dia eu chego lá

Todo mês eu recebo um salário covarde,
No desconto vai quase a metade
E o que sobra mal dá pra comer
Eu sou pobre criado em comunidade
Lutando com dignidade, tentando sobreviver
Quem sabe o que quer nunca perde a esperança, não
Por mais que a bonança demore a chegar
A dificuldade também nos ensina
A dar a volta por cima e jamais deixar de sonhar

terça-feira, 24 de maio de 2011

Milagre ! Irmã Dulce salva Cerra de sufocamento

Como se sabe, o Padim Pade Cerra, o do aborto (no Chile, tudo bem !), o amigão do Papa e do Bispo de Guarulhos, beatificou a Irmã Dulce.

Não fosse ele, o Papa não se teria convencido da santidade da beata da Bahia.

Foi ele quem pediu a beatificação da santa.

Na cerimônia da beatificação, lá estava o Padim.

Só que choveu.

E o Padim quase se sufoca.

Ao colocar a capa de plástico, atrapalhou-se.

Meteu os pés pelas mãos.

E só por um milagre não se fez sufocar em público.

Um milagre da Irmã Dulce, certamente.

Perceba, amigo navegante, como a cena, comovente, patética, emocionou a plateia.

Á esquerda da foto, o José Carlos Aleluia, aquele que escreveu ao reitor de Coimbra para protestar contra o título de professor Honoris Causa ao Nunca Dantes.

Aleluia se diverte.

Atrás do beato Padim, outros também riem a mais não poder.

O fotógrafo Raul Spinassé do jornal A Tarde, como se sabe, corre sério perigo.

Ou ser demitido, ou receber a maldição eterna do Padim Pade Cerra.

Ele é um jenio !


Fonte : Paulo Henrique Amorim

http://www.conversaafiada.com.br/brasil/2011/05/23/milagre-irma-dulce-salva-cerra-de-sufocamento/

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Ritos de Passagem II



Ritos de Passagem

 Um trabalho estraido do blog  http://www.liberatoproducoes.com.br/blog/, reitera nosso cultura nordestino.. esse pessoal ta na batalha pra conseguir recurso e rodar o filme Ritos de Passagem.. 

 

 

CONTEXTO

por candidaluzliberato@gmail.com em 06/04 às 11:05
Fruto generoso do encontro de três culturas matrizes em toda sua pujança de expressão, a indígena, a negra de origem africana e a branca de origem ibérica, o Nordeste brasileiro se torna fiel depositário de símbolos, arquétipos, imagens, vocabulários, costumes, procedimentos, rituais que refletem o denso caldeamento aí iniciado que percorre a história do Brasil até os dias atuais.
A toponímia herdada da cultura indígena nos nomes tapuias de estranha pronúncia e significado, os cantos de trabalho gerados pela mão escrava africana pela necessidade de humanizar as atividades diárias realizadas sob a lei da chibata, os ritos religiosos a pontuar o calendário do povo sertanejo, as formas ricas e variadas de guerrear e de orar, os sonhos messiânicos de resgate da dignidade e da fartura que mobilizaram muitos Beatos e seus seguidores, Conselheiro e Belo Monte, Lampião e seu reinado seguindo tradição jagunça de longa data, são os temas que se entrecruzam nas falas vicentinas do Demo, nas falas arcaicas de Caronte, nas prédicas alvissareiras do Santo, nas ameaças duramente anunciadas e executadas pelo justiceiro-guerreiro Alexandrino, em linguagem e sentimento que só o cordel na sua longa permanência de três séculos de deambulação oral e escrita conseguiu expressar para que o desenho da gravura popular dê suporte gráfico e estético a "Ritos de Passagem".

quinta-feira, 5 de maio de 2011

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil

Poema em linha reta
Fernando Pessoa
(Álvaro de Campos)
[538]

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.


E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.


Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...


Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,


Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?


Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?


Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.


segunda-feira, 2 de maio de 2011

Respeitem nossos valores – e cabelos!

 
Respeitem nossos valores – e cabelos! 
 Henrique França [@RiqueFranca]

                Francisco César Gonçalves é um sertanejo destemido e sensível. O cara cresceu no burburinho cultural brasileiro-nordestino, tornou-se um irreverente e talentoso cantor, encantou o mundo com suas canções e acabou na vida administrativa. Hoje, secretário de Cultura da Paraíba, Chico César mostra que, apesar das assinaturas e burocracia necessárias ao cargo que exerce, permanece um dom Quixote da cultura do Nordeste, sua terra, sua gente, seu valor.
                Negro, de família humilde, sertaneja, fora dos padrões emburrecidos de “beleza”, Chico tem na palavra sua espada. E com ela vence batalhas, apesar de fazê-lo diante da impossibilidade de ferir um ou outro. Esses dias, o nome de Chico César voltou a provocar reações positivas e negativas, depois que o secretário declarou que grupos musicais que destoantes da tradição musical nordestina – as bandas de forró de plástico ou as duplas sertanejas – não serão contratados pelo Governo da Paraíba para a programação do São João local.
                Com a polêmica nos principais sites de notícias da Paraíba e do Brasil, com seu nome entre os dez assuntos mais comentados do twitter, Chico César foi vítima e vilão, ganhou mais respeito por alguns e insultos por outros. E, pasmem, ganhou um bom número de internautas que declararam sequer conhecer esse “tal Chico César”! Os argumentos contrários à declaração do cantor se baseiam na vontade popular: se o povo gosta, dê a ele todo lixo em forma de canção, dancinhas e gritinhos.
                O argumento é frágil e pouco convincente. Se assim fosse, que tal ampliarmos a discussão para outras áreas. Se o povo gosta de fumar, libera o cigarro; se o povo gosta de acelerar, libera essa besteira de limite de velocidade nas ruas; se há pais que não acham necessário matricular seus filhos em uma escola (melhor levá-los para pedir um trocado nos semáforos), deixe que eles, como pais decidam. Parece exagero? Sim, mas não é. A música é, sim, um instrumento de mudança social. Aliás, qualquer forma de arte possui essa capacidade.
                Então, quando eu relego a décimo plano uma música que nos identifica como povo, que fala a língua do Nordeste, que nos remete a memórias ancestrais dos nosso pais, avós, que valoriza as pessoas, as relações, mesmo os embates históricos, as lembranças de uma trajetória nordestina – seja cantando um pássaro ou um lamento do homem sertanejo, seja narrando o despertar da adolescência da menina do interior ou uma disputa engraçada de embolada -, estou lançando toda essa carga de história aos resíduos memoriais.
                Não, não se trata de alienação ou de direcionamento do que eu devo ou não ouvir. Trata-se, sim, de respeitar o povo a quem ele – Chico César – serve. Caso contrário, há quem concorde em pagar caro por artistas que elevem em suas canções o machismo exacerbado, o xingamento gratuito, a insinuação de pedofilia, a exposição de mulheres como pedaços de carne rebolando sobre um palco, sendo desejadas de forma tão obscena que se torna vergonhoso por se dar em espaço público, que traz em suas letras refrões do tipo “vem molhar o meu corpo, quero ver se vai resistir o que tenho aqui”, “o meu bolso é minha guia, a bebida é a razão”, “eu juro não vou sossegar - se você não me der, desculpa, eu vou roubar”? Tem mais: “Vai começando na cabeça/ Vai descendo pro queixinho/ Menina gostosinha, eu sou o seu neguinho/ Alisando, alisando, esse lindo umbiguinho/ Se você não aguenta fale assim pra mim: Ai painho, a-a-ai painho.”
                Atenção, críticos e suas metralhadoras giratórias. É isso que vocês estão defendendo? Não se trata, aqui, simplesmente de arte. Trata-se de comportamento, respeito, o mínimo de coerência. Porque quando um “painho” estupra a própria filha ficamos todos revoltados. Porém, quando um “artista” canta isso, insere uma voz de criança para cantar “a-a-ai painho” ninguém se constrange ou se indigna? É isso mesmo? Chico César é um artista que está secretário. Não cabe aqui avaliar sua atuação administrativa, mas esse é o mesmo homem que escreveu, na canção-desabafo “Odeio Rodeio”: Me tira a calma, me fere a alma, me corta o coração. É bom pro mercado de disco e de gato, laranja e trator / Mas quem corta a cana não pega na grana, não vê nem a cor.
                Palavras de Chico, como secretário: “Nunca nos passou pela cabeça proibir ou sugerir a proibição de quaisquer tendências. Quem quiser tê-los que os pague, apenas isso. São muitas as distorções, admitamos. Não faz muito tempo vaiaram Sivuca em festa junina paga com dinheiro público aqui na Paraíba porque ele, já velhinho, tocava sanfona em vez de teclado e não tinha moças seminuas dançando em seu palco. Vaias também recebeu Geraldo Azevedo porque ele cantava Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro em festa junina financiada pelo governo aqui na Paraíba, enquanto o público, esperando a dupla sertaneja, gritava "Zezé cadê você? Eu vim aqui só pra te ver".”
                Dizem que Chico César está sendo intolerante. Talvez devêssemos nós, como “baluartes” da dignidade, nos colocarmos de forma a não tolerar mais certas manifestações “culturais” que nos enfiam goela abaixo valores distorcidos em forma de canções “divertidas”. Não sou preto na pele, não sou musicalmente talentoso como nosso secretário de Cultura, mas aproveito alguns poucos fios de cabelo que agrisalham minha cabeça para cantar com Chico:

Respeitem meus cabelos, brancos
Chegou a hora de falar
Vamos ser francos
Pois quando um preto fala
O branco cala ou deixa a sala
Com veludo nos tamancos.